terça-feira, 24 de novembro de 2009

Petrificado olhar

Nunca esquecerei aquele olhar. Olhos intensos. Secos.
Eles nunca choravam. Mas via-se bem profundamente as mágoas e desilusões que guardavam.
Um olhar triste. Inconfundível.
Sempre fui capaz de perceber aquele olhar angustiado, que nunca deixava as lágrimas que ali se escondiam escorrer pela face que o sustentava.
Olhos observadores, que julgavam o que conseguiam ver, mas nunca demonstravam o que de fato sentiam e pensavam.
Muitas tentativas eu fiz para conseguir ver rolar as lágrimas que eu sempre tive a certeza que ali estavam.
Mas tudo foi em vão. O olhar estava petrificado.
Eu sentia que se aqueles olhos chorassem, tudo a sua volta se inundaria. Era muita vida não vivida. Guardada.
Momentos de alegrias e tristezas que nunca foram postos pra fora.
E eu sei bem o motivo pelo qual isso nunca aconteceu. A culpa, ela não deixava aqueles olhos se banharem nas infinitas lágrimas que ali estavam.
Uma culpa imensa, de uma passado doloroso que deixara gravado o medo da mudança.
Eu sempre tive a capacidade de ver o mundo que aqueles olhos tentavam esconder. E mil tentativas foram as minhas para fazê-los chorar. Para libertar as emoções através das lágrimas. Tudo sempre em vão.
Ainda tenho esperança de algum dia presenciar um choro infinito desses olhos.
Olhos esses que, gravados nos meus para sempre permanecerão. A imagem deles nunca se apagará. Mesmo quando eles se apaguem e nunca mais possam chorar. No meu olhar eles pra sempre vão ficar.

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